quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Para quem desacredita, a periferia responde!

Pediram para eu fazer alguma denúncia vinculada a cultura na periferia, mas resolvi escrever um texto-resposta.
Óhh, Jardim Ângela, Capão Redondo, São Luiz, alguns dos bairros mais perigosos de São Paulo, habitat de pessoas e costumes ridicularizados pelo Caco Antibes no Sai de Baixo e que mais geram matéria e renda para os Cidade Alerta e afins?
Sim somos nós mesmos, a periferia. Olhe bem nos nossos olhos e nos trate com muito respeito, por gentileza!
Em meio a pobreza, o Pinheiros-Jardim Ângela e o Vila Gilda-Ana Rosa lotado todo dia, nosso povo respira dignidade e o desejo de dias melhores desabrocha todas as manhãs. Concertos de música são produzidos num palco minúsculo chamado de Pólo Cultural.
A histórica Casa de Cultura de M´ Boi Mirim, que políticos da região já quiseram derrubar para dar lugar a base de polícia e que deveria ser subsidiada pela prefeitura, realiza seus eventos sem ao menos uma caixa de som “do Serra” ou ao menos um computador com internet em sua pequena biblioteca, ao mesmo tempo em que encaminha mais de 40 projetos de moradores da região para o VAI*.
Em cada canto da nossa periferia explode alguma atividade cultural, raramente patrocinada pelo Estado, caminhando com as próprias pernas e modificando o ambiente, são escritores, bibliotecas, saraus, grupos de teatro, ONGs, associações, produção e exibição de cinema, botecos.
Para você sentir o gostinho, posso até citar um pouco dos nossos representantes: Bloco do Beco, Projeto Seja Criativo, MUCCA, Rainha da Paz, Cooperifa, Ação e Arte, Monte Azul, Manicômicos, Porão do Rock, Boêmios da Vila, Zumaluma (Embu das Artes), Movimento dos Sem Teto (Taboão da Serra), Becos e Vielas Z/S, Panelafro, Casa dos Meninos, Bar do Binho (Campo Limpo) e muitos outros.
Aos poucos nós vomitamos as porcarias que nos são impostas pela TV e quebramos inteligentemente, o nariz de muito playboy arrogante.
È, quem diria né boyzão, o filho da sua faxineira curtindo um teatro, discutindo filosofia e política na padaria ou fazendo um rap, tudo na favela que você tem medo de passar com seu carrão. Calma, não se assuste conosco, em breve você será obrigado a conviver com muito mais gente da nossa laia em sua faculdade, não só no farol vendendo balas.
Por isso continuamos sonhando com uma periferia melhor. Sonhando muito, mas com os pés no chão e arisco a cada movimento dos inimigos.
Coronéis Ubiratan, Malufs, Datenas e demais, a favela está dando a resposta ao descaso e a injustiça. E você que ainda tem medo de pobre, continue com medo, mas nos trate com respeito, por gentileza!
Circo Navegador seja bem vindo as nossas quebradas.

*Programa de Valorização de Iniciativas Culturais da prefeitura de São Paulo que destina 17 mil reais a cada projeto selecionado
Rogério Pixote, repórter comunitário do informativo Becos e Vielas Z/S A Voz da Periferia da ONG Papel Jornal.

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